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Porque eu vou deletar o instagram do celular
Bruxa Cientista – Edição #013
Os brasileiros passam 15 horas e 54 minutos, em média, por mês no Instagram. Multiplica isso por 12 e deixa o número final ser digerido.
A quantidade de horas por dia que eu gasto com redes sociais é uma anestesia, como um coma induzido. Isso drena a minha energia e preciso reconhecer que tenho um vício.
Mas eu quero acordar. A vida real acontece fora das telas.
Picos de dopamina e vício
Você já deve ter ouvido alguém falar sobre como o sistema de recompensa e os picos de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer, estão envolvidos nos nossos hábitos.
Toda vez que temos uma ação prazerosa, seja qual for, há uma descarga de dopamina. Contudo, a dopamina tem uma característica: ela está envolvida também com a nossa motivação.
Ah Fabi, então quanto mais dopamina melhor? Não.
A dopamina em excesso causa prejuízos ao nosso funcionamento e está associada a distúrbios como bipolaridade e mania.
Como grandes conhecedores de neurociência e comportamento humano, os desenvolvedores das redes sociais criam uma engenharia perversa.
O algoritmo funciona de maneira que entrega conteúdos que nos interessam (pico de dopamina), seguidos de vários conteúdos que não nos interessa.
Sem perceber (leia-se inconscientemente), você fica preso em um loop: buscando um novo pico de dopamina.
Esse mecanismo é o mesmo de qualquer vício.
A Dra. Anna Lembkle é autora do livro Nação Dopamina, que explora melhor esse mecanismo.
Esse trecho me atravessou como uma flecha:
"Além de exemplos extremos de fuga do sofrimento, perdemos a capacidade de tolerar até formas menores de desconforto. Constantemente, procuramos nos distrair do momento presente, nos entreter".
Quando estamos constantemente buscando distrações, não conseguimos ter presença. E qual o problema disso?
Solidão: um problema de saúde pública mundial
A OMS divulgou que uma em cada cinco pessoas sofre de solidão no mundo. Isso inclui jovens e adolescentes.
A solidão está associada a diversas consequências negativas para nossa saúde, incluindo o aumento do risco de demência em 50%.
Nunca estivemos tão conectados. Nem tão sozinhos.
É assustador, mas as pesquisas da OMS indicam que a solidão pode ser tão prejudicial para nossa saúde quanto o hábito de fumar.
Se sentir só equivale a fumar 15 cigarros em um dia, em termos de prejuízos à saúde.
Já faz alguns meses que o sentimento de solidão faz parte das minhas sessões de terapia.
Inclusive procurei um médico achando que poderia estar deprimida. Segundo a avaliação feita, não estou. Mas estou solitária e preciso fazer algo a respeito disso.
Me sinto só
O Skank já cantava: Me sinto só, me sinto só. Me sinto tão seu.
Apesar de autista (falei mais disso, nessa edição), eu adoro pessoas.
Gosto de estar com elas, de conhecer-las e saber como elas funcionam.
Quem são, onde vivem, o que comem rsrs.
Contudo, tenho algumas dificuldades sociais, como a minha falta total de filtro, que já me colocou em algumas enrascadas.
Não estou culpando meu autismo pela minha solidão. Mas ele faz parte desse contexto.
Tenho marido e filho. Amo-os muito, mas cada um tem sua rotina. Eu trabalho em casa 100% do tempo. No meu quarto.
Vivo em um fuso que não facilita o contato com as pessoas mais íntimas.
Esse afastamento geográfico facilmente vira uma necessidade de estar online maior que se eu morasse perto dos amigos e família.
Mas Fabi, por que você não faz amigos aí?
Eu fiz e faço. Mas os mais íntimos já foram embora. Essa é uma realidade comum de quem é imigrante. As pessoas vêm e vão com uma frequência maior que quando vivemos no nosso país natal.
Além disso, temos o celular ali do lado. 24 horas por dia. 7 dias da semana.
Sem perceber, ficamos reféns daquele apoio digital. Os likes. Os comentários. A "turma" digital. O inbox. As conversas de horas que eu tanto gosto.
É mais fácil pegar o celular e abrir uma rede, assistir um vídeo, do que telefonar para alguém que sentimos falta. O celular é como uma muleta que acaba se tornando um vício, sem que a gente perceba.
Reconhecer o buraco é a primeira etapa para não cair mais nele.
Pode parecer piada da vida, mas meu futuro doutorado será sobre vício.
Decidi então reconhecer que estou sim, viciada no celular. Mas quero fazer algo a respeito disso.
O que eu sei, baseado em tudo que já estudei sobre vício, é que todos eles estão baseados em cobrir uma falta. São mecanismos de defesa. E não, vícios não são genéticos. Não existe um gene que te faz ser viciado nisso ou naquilo.
Eu sei que falta eu estava tentando cobrir com o uso excessivo do celular.
Ficou claro nos últimos meses que o celular é meu mecanismo favorito para lidar com sentimentos de solidão e perda.
Aproveitando que meus pais chegam aqui na Nova Zelândia dia 7 de Dezembro, decidi deletar o instagram do meu celular nesta data.
No dia que eles forem embora, dia 16 de Janeiro de 2024, eu reinstalo.
Não sei como vai ser esse período. O que vou sentir. Que conclusões vou chegar. Mas prometo dividir com vocês em uma edição futura.
Te convido a refletir sobre vícios. Meus estudos preliminares indicam que todos nós temos algum, em menor ou maior grau. Exercícios. Estudos. Comida. Bebida. Sexo. Televisão. Redes Sociais.
E você, teria coragem de deletar seu Instagram por mais de um mês? Vou adorar saber de você qual sua perspectiva sobre o tema desta edição.
Favoritos da semana 🏆
Como tive covid semana passada, certamente rolou um novo record pessoal aqui de seriados e documentários assistidos. Com isso alguns novos favoritos foram adicionados às minhas listas e trago eles aqui:
O filme que mais gostei foi Nyad. Eu adoro filmes sobre atletas. Esse filme conta a história de uma nadadora que tenta um record mundial quando é jovem mas não consegue ter êxito. Ela passa a vida presa ao fantasma de não ter conseguido e resolve tentar novamente, com 60 anos de idade. Várias coisas dão errada nessa nova jornada. Chorei horrores, daqueles choros bons. Recomendo de olhos fechados. Certamente vai fazer você rever seus conceitos sobre conquistas.
Mais um sobre atletas (alô hiperfoco!): o documentário do David Beckham. Aqui você confere o trailler. Eu não conhecia nada da história de vida dele. Fiquei curiosa para fazer seu mapa astral e o do pai dele, deve ter um estudo de complexo paterno interessante ali. O pai era totalmente obcecado por futebol e praticamente moldou a vida do Beckham para que ele se tornasse jogador de futebol. Interessante como vemos o mesmo com a história das irmãs Williams. Dá pano pra manga refletir sobre a influência que nossos pais tem sobre os nossos sonhos e escolhas.
Sobre a Newsletter Bruxa Cientista
Escrita por Fabi Ormerod compartilhando experiencias e perspectivas sobre mentalidade, mundo sutil e mundo concreto.
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Bruxa Cientista - Edição #013
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