Por que Escolhi Abraçar a Sobriedade

Newsletter Bruxa Cientista Edição #023

Não, obrigada, decidi ficar sem beber álcool por um ano. Essa simples frase tem gerado uma repercussão maior que eu imaginava entre pessoas próximas a mim.

Mais que isso, tem sido a fonte de questionamentos diversos onde cada vez fica mais claro para mim que o álcool e os mitos sobre seu consumo estão enraizados na nossa cultura.

Já adianto que essa newsletter não tem o objetivo de te convencer a fazer o mesmo.

Minha intenção é te informar e trazer o "state of the art" sobre o tema, para que suas decisões sejam informadas e não guiadas por mitos.

Uma das várias fotos minha com taça na mão, pois beber vinho é "cool” (ironia)

Álcool e minha história pessoal

Assim que digitei a introdução desta news, fui no meu arquivo pessoal de fotos e digitei "drinking".

Confesso que me assustei com as centenas de fotos que vi. Grande parte delas bebendo vinho, gin, ou aperol. Grande parte das fotos também eram de momentos onde eu bebo café.

Quase nenhuma foto bebendo água. Achei intrigante e comecei a lembrar como o álcool foi inserido no meu contexto familiar.

Tenho algumas lembranças marcantes. Um tio que faleceu decorrente do alcoolismo. Um amigo que morreu em um acidente de carro após beber.

Alguns acidentes de carro com pessoas da família após ingestão de álcool.

Meu primeiro porre que poderia ter resultado na minha morte e da minha melhor amiga. Por muitos anos contamos essa história com muita risada. Hoje vejo isso como um contexto cultural onde minizamos o risco do álcool.

Eu recém tinha ganhado de presente do meu pai meu primeiro carro. Um fusca laranja, 1974, que apelidei de abóbora selvagem. Eu e minha amiga fomos nele para o primeiro evento oficial da nossa turma de faculdade.

Lá, bebi vinho, cerveja e várias outras bebidas. Não lembro muito da festa por motivos óbvios. Contudo, a té hoje, me lembro que foi a primeira vez que vomitei por beber álcool em excesso.

Ao sair da festa, me recusei a deixar ela dirigir e assumi o volante, completamente bêbada. Dirigi pela canaleta do expresso até em casa (quem é de Curitiba sabe do que estou falando). Passei vários sinais vermelhos.

Hoje entendo que foi mesmo um milagre não termos sofrido um acidente fatal. Ao chegar em casa, abri o portão da garagem e entrei com o carro. Porém, estacionei antes de entrar com o carro todo, deixando-o metade dentro da garagem, e metade fora. Com o portão aberto!

Caso o portão fechasse, teria amassado o carro pela lateral.

Fomos deitar e meio aos meus protestos com minha amiga, meu pai acordou e me vendo naquele estado perguntou: Fabiane, você bebeu?

Minha resposta foi: "Só um poquinho"(imagine alguém muito bêbada respondendo com a voz arrastada).

Além do sermão, de castigo perdi o carro por vários meses.

Honestamente? não adiantou muito. Não me orgulho de dizer que muitas vezes bebi e dirigi, sem nenhuma cerimônia.

Conheço várias pessoas que já tiveram comportamento similares. Por muito tempo, normalizamos o beber e dirigir. Que bom que isso mudou um pouco de uns anos para cá.

Diferente de alguns amigos e até pessoas mais próximas da família, nunca parei no hospital por excesso de álcool. Mas lembro de vários casos de conhecidos em coma alcoólico após uma balada forte. Se você refletir, deve lembrar de alguma história similar.

Em casa, beber era algo comum. Não beber de cair, mas a cerveja no churrasco, drinks em festas. Bom, meu pai era executivo do alto escalão da Brahma.

Lembro de ter menos de 10 anos de idade e sair da escola direto para a fábrica da Brahma na Tijuca. Ao chegar lá, por ser filha do gerente geral e conhecida por todos, podia atravessar a fábrica por dentro (o que hoje seria inimaginável!).

Nesse passeio até a sala do meu pai, não era raro o cervejeiro me dar escondido um golinho para eu experimentar a cerveja que estava sendo fabricada.

Ou seja, beber álcool era algo próximo, que todos a minha volta faziam. Além disso, não me parecia ser algo perigoso ou que não devesse fazer. Até a morte do meu tio que citei acima. Mas mesmo assim, nunca achei que havia mal algum em tomar um porre ou outro na balada.

Outro dia, conversando com meu marido, lembramos de quando nos conhecemos e a quantidade de álcool que consumíamos em uma única noite.

Depois que o Pedro nasceu, em 2006, seguimos "baladeiros". Em uma noite,deixamos ele com a minha sogra que na época morava a 3 quadras lá de casa.

Fomos para o Vox, nosso bar e balada favorito. Bebemos muito. Passamos da conta mesmo. Um milagre chegarmos em casa sem um acidente já que o Fran dirigiu alterado.

Fomos dormir umas 4 da manhã e as 6 horas nossa sogra ligou que iria à missa das 7 e precisávamos pegar o Pedro.

Buscamos o bebê, conseguimos disfarçar nosso estado. Ao chegar em casa, colocamos o colchão de casal no chão da sala e o Pedro no "moisés" ao lado. Foi horrível. Eu e Francis nos alternávamos em idas ao banheiro passando mal e cuidando de um bebê nesse estado. Foi vergonhoso.

Com os anos, essa fase baladeira diminui, mas não o meu consumo de álcool.

O que intriga é que eu nunca tive problemas com álcool nem cresci em uma casa com algum alcoólatra, mas analisando minha jornada, acho que esse volume de bebida apesar de limitado a festas e baladas, também não era saudável.

Minha despedida do Brasil: eu e minha mãe tomando uma saqueirinha de morango.

A executiva de sucesso na indústria de vinho mundial

Muita gente sabe que trabalhei como executiva de uma multinacional de biotecnologia chamada Novozymes por muitos anos. Poucos sabem que por anos gerenciei todos os negócios da empresa, na área de vinhos, na região Américas.

Visitei muitos fabricantes famosos de vinho. Era comum ter reuniões globais em Paris, Napa Valley, Argentina, Chile.

Em visitas a distribuidores, aprendi a usar estratégias para não trabalhar bêbada, pois visitávamos 5–7 vinícolas e claro, todos queriam que a gente experimentasse seus produtos! O recurso mais comum era dizer que estava tomando antibiótico e iria deixar para próxima visita.

Contudo, quando era um vinho que eu sabia ser muito bom, não era raro aceitar e tomar uma taça já de manhã. À noite, nas reuniões de negócios, mais bebida alcoólica.

Em uma dessas visitas (pena que não tenho fotos), estávamos em Napa Valley e me senti em um filme. Chegamos em uma das vinícolas mais bonitas que já vi na vida, a reunião foi na adega e em seguida, fui convidada a conhecer o resto da propriedade.

Chegamos a um rio onde tirei o salto alto, coloquei os pés na água gostosa e logo veio um mordomo com bandeja de prata, champagne, queijos e frutas. Detalhe, eram 10 da manhã!

Outra história época dessa época foi quando após um jantar de negócios em Santiago e várias taças de vinho, cheguei ao hotel um pouco zonza. Lembro que deitei na cama e senti tudo rodando. Sentei e vi as paredes tremendo, senti a cama balançar. Pensei: nossa, eu não achei que tinha bebido tanto!

No dia seguinte, ao acordar, meu telefone estava cheio de mensagens e ligações perdidas. Todos querendo saber se eu estava bem, pois houve bem, por causa do terremoto em Santiago, que infelizmente causou destruição na cidade. Eu nem percebi o terremoto. Esse foi o efeito do álcool em mim aquela noite.

Apesar de atuar nesse segmento, nessa época bebia muito menos do que quando era baladeira.

Registro de um dos eventos com amigos ano passado. Olha o vinho ali.

O álcool como lubrificante social e anestésico para uma autista

Sou autista de nível 1 de suporte. Meu autismo foi identificado quando eu tinha 44 anos.

Uma das primeiras dúvidas que tive foi como eu poderia ser autista se eu fui tão baladeira?

Meu psicólogo me perguntou se nessa época eu usava alguma substância psicoativa. Eu disse que não: nunca usei drogas.

Ele insistiu: nunca bebeu álcool? nunca fumou? Eu fazia ambos.

Foi então que aprendi que muitos neurodivergentes, especialmente autistas, conseguem tolerar eventos sociais por causa do efeito anestésico do álcool.

Outro dia conversando com uma amiga dessa época comentei este fato. Ela me lembrou que quando eu não podia beber (por estar tomando alguma medicação ou mesmo de ressaca forte), eu ficava muito pouco nas festas e baladas. Logo queria ir embora.

Nos últimos anos, reconheço que em muitos momentos usei o álcool como muleta. Não bebi de passar mal faz décadas, mas para aguentar ficar nas festas brasileiras aqui, sempre tomava 2-3 taças de vinho ou champanhe. Ou mesmo uns 2-3 drinks a base de gin.

Nada de mais, você pode pensar.

Pouco até, outros dirão.

Talvez você se surpreenda em saber que esse "pouco" é suficiente para me colocar em um risco aumentado de ter câncer de mama (mais ainda por minha mãe já ter tido câncer duas vezes).

Você sabia que o álcool é cientificamente comprovado e aceito como cancerígeno?

Se não consegui sua atenção até agora, espero ter conquistado-a com a frase acima.

Sim, álcool causa câncer.

Eu feliz da vida, em dez/21 celebrando ter vendido 100.000 RS em uma turma do curso de astrologia. (Meu primeiro 6 em 7). Champanhe, claro.

Derrubando os maiores mitos sobre álcool

Quais são as "verdades absolutas" que você acredita sobre beber álcool?

Algumas que ouvi muitas vezes são:

  1. Beber com moderação não faz mal.

  2. Um pouco de vinho diariamente, faz bem para saúde e previne problemas cardíacos.

  3. Pessoas alcoólatras são aquelas que "bebem de cair", que tem problemas sérios em suas vidas por causa da bebida.

Vamos conversar sobre estes mitos com dados científicos.

A OMS já declarou, baseando-se em pesquisas mais recentes que as que defendem um pouco de vinho diariamente, que nenhuma quantidade de álcool é segura ou benéfica para saúde.

Aliás, a própria OMS reporta que 7 em cada 100 novos casos de câncer de mama na Europa são causados pela ingestão de álcool. E não, essas, mulheres não são alcoólatras.

Se esse número não te alarma, quero te apresentar outro.

Quantas doses de bebida alcoólica você consome por semana?

Comparado com mulheres que não bebem álcool nunca, se você tem o hábito de beber 3 doses por semana (pense aí nos eventos de família, encontros com amigas), seu risco de ter câncer cresce em 15%.

Sendo filha de uma mulher que teve câncer de seio duas vezes, além de ter amigas próximas que passaram por essa doença, ao tomar conhecimento desses dados quis diminuir (e agora parar) meu consumo de álcool.

O maior mito sobre álcool vem dos estudos sobre vinho. O que você talvez não saiba é que esses estudos foram fundados pela indústria alcoólica! Você consegue seguir confiando no resultado destas pesquisas? Eu não.

Algo similar aconteceu com o cigarro, que por muito tempo foi considerado inócuo, por causa dos estudos subsidiados pela indútria tabagista.

O maior estudo já feito até hoje sobre os efeitos do álcool foi publicado ano passado e ele confirma: nenhuma quantidade de álcool é segura (sim estou sendo repetitiva, de propósito!).

Se você lê inglês e deseja uma cópia do estudo, me escreve que te envio (ao clicar no link talvez você não tenha acesso ao pdf como eu tenho por ser acadêmica).

Sem hipocrisia

Imagem tirada do Instagram recentemente que diz: Às vezes, um copo de vinho com as suas amigas é toda terapia que você precisa.

Nessa edição contei muito da minha história pessoal e de como o álcool participou da minha vida em vários momentos. Muitos inclusive são minhas melhores memórias: celebrações, conquistas e festas com pessoas que amo.

Contudo, recebi uma bolsa de doutorado (contei nessa edição aqui) para pesquisar sobre como a indústria do álcool usa as redes sociais e nos manipula para bebermos mais.

Minha pesquisa será focada em mulheres imigrantes porque percebi que estamos mais vulneráveis ao que chamo de "alcoolismo informal".

Sem perceber, estamos inseridas em um contexto que nos estimula a beber mais.

Beber é chique, libertador e nosso direito como mulher empoderada. Esse é um discursos comum e invisível, que nem sempre nos damos conta de perpetuar.

Te convido a refletir sobre esse discurso. E se você não é mulher, te convido a enviar essa newsletter para as mulheres que você ama.

Eu gosto do sabor do vinho. Mas hoje me questiono se isso é verdade ou se fui ensinada a gostar. Acho que vale a reflexão!

Favoritos da semana 🏆

FIlme: Neste fim de semana assisti a um filme baseado na história real da Shirley Chisholm na Netflix. Nunca tinha ouvido falar nela e o filme é pura inspiração. Ela foi a primeira mulher negra a ser eleita para o congresso americano.

Livro: Ainda estou terminando de reler o livro que indiquei na última news. É um livro fininho mas profundo. Volta e meia releio para refletir sobre as minhas escolhas. Aqui o link dele em português: Em busca de sentido.

Corre que vai acabar dia 31/03!

Até o final de Março estamos oferecendo um cupom de desconto no valor de 500 reais no meu curso principal: Astrologia e Autoconhecimento.

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Sobre a Newsletter Bruxa Cientista

Newsletter Semanal, nem sempre enviada no mesmo dia da semana (surpresa!). Escrita por Fabi Ormerod compartilhando experiências e perspectivas sobre mentalidade, mundo sutil e mundo concreto.

Newsletter configurada e enviada pela plataforma BeeHiiv.
Bruxa Cientista - Edição

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