Você não realiza seus desejos

por falta de tempo?

Não fiz x, y ou z porque não deu tempo.

Queria que o dia tivesse mais 24 horas.

Não tenho tempo para mim mesma.

Quantas vezes você já ouviu ou pensou alguma das frases acima.

Nesta edição vamos falar sobre como a construção do tempo e como usamos isso como muleta.

Além disso, vou guiá-lo em uma jornada interior para identificar suas necessidades e desejos.

Você também se faz perguntas profundas o tempo todo? Sou dessas.

Como o tempo nasceu?

Já começo dizendo que ninguém tem essa resposta. Arrisco dizer que o tempo é uma construção social. Nós é que o criamos.

E não estamos falando de física o do conceito de temporalidade.

Existem registros bem antigos do quanto essa angústia do tempo faz parte da nossa humanidade.

Sêneca nos lembra que o passado é imutável e o futuro é incerto; portanto, devemos focar no agora.

Ele não foi o único filósofo a falar sobre temporalidade.

Por quê? Porque essa é a única certeza de que temos, que somos temporais. Começamos a morrer no dia que nascemos.

E desde que em algum lugar dentro da gente, essa percepção nasce, começamos a lutar contra isso. Questão de humanidade, de dar conta da vida sabe?

Contudo, viver ciente da nossa finitude é insustentável.

Consegue lidar com a agonia de saber que nossa vida pode acabar a qualquer momento? Isso dá muito medo, é muito vulnerável.

É mais fácil fingir que não é assim que acontece.

A psicologia explica isso.

Locus de controle e temporalidade

Existem duas formas de ver a vida, do ponto de vista psicológico. Chamamos isso de locus de controle.

Temos duas opções, o locus de controle pode ser interno ou externo. Quando ele é interno, entendemos que a vida é resultante das nossas escolhas, comportamentos e eu estou no "volante" da minha vida.

Quando tudo que nos acontece é resultado de objetos externos, somos vítimas e não temos controle algum, o que chamamos de locus de controle externo.

Mas sabe qual o problema que vejo nessa abordagem psicológica dominante? É tudo muito 8 ou 80. E os seres humanos são muito mais complexos que isso.

Nosso contexto social e as estruturas da nossa vida influenciam nossas perspectivas. Nossa realidade, assim como a percepção de tempo, é subjetiva.

Como viver sem controle, certezas? Será que devemos jogar tudo para o alto e viver como Zeca Pagodinho "deixa a vida me levar, vida leva eu"?

Além do exposto acima, existe também o fenômeno psicológico da temporalidade, que é afetada por diferenças de personalidade.

Sim, vemos o tempo de forma diferente, dependendo de quem somos.

O psicologo Zimbardo, estudou temporalidade em 2008 e concluiu que pessoas vêem o tempo de formas distintas e que isso é resultado de suas personalidades e experiências passadas.

Dito isso, ele classificou as pessoas em três categorias: os que vivem mais focados no passado, no presente ou no futuro. Ele também e concluiu que a forma pela qual vemos o tempo afeta a nossa tomada de decisões.

Por exemplo, um estudo de 2015 de psicólogos na Nova Zelândia (ler o artigo aqui), mostrou que pessoas mais focadas no futuro, tendem a apresentar comportamentos sociais de proteção ao meio ambiente. Elas tem tais comportamentos porque se preocupam com a humanidade e o aquecimento global, o que afeta suas decisões de consumo no presente.

A capacidade de olhar o momento presente, refletir sobre o passado e criar possíveis cenários no futuro, impacta nosso comportamento.

Porém, nem sempre esse olhar para o futuro nos ajuda. Existem os que levam isso aos extremos, ficando ansiosos sem conseguir viver o momento presente.

Existem também os que são tomados pelo medo quando ficam cientes das possíveis dificuldades que o futuro apresenta. Nestes casos, é comum entrar em "modo de sobrevivência", quando nossa estrutura psíquica recorre a mecanismos de defesa.

Um dos mecanismos de defesa mais comuns, é a negação. Mas será que essa é a forma mais saudável de lidar com nossas angústias?

Lidar com o que sentimos requer coragem. Mas ninguém ensinou a gente isso. Pelo contrário, fomos ensinados a fugir do que sentirmos.

Mulheres, mais que homens, foram ensinadas algo mais: elas sentem, mas aprendem a engolir isso para não gerar desavenças, incômodos.

E como isso, crescemos bebendo limonadas salgadas, fingindo serem doces como uma brigadeiro.

Nem toda limonada é doce…

Você ainda bebendo limonadas salgadas?

Admiro muito uma escritora brasileira, que tenho o prazer te chamar de amiga (sou astróloga dela), a Elisama Santos.

Uns dias atrás ela participou de um episódio do podcast Obvious e você pode ouvir o episódio todo aqui.

Neste episódio, Elisama conta no episódio sobre um estudo psicológico da Universidade da Califórnia.

Um homem ofereceu a meninas, limonadas salgadas e observava suas reações.

Você consegue suspeitar do resultado?

Todas as meninas beberam e fingiram que estavam boa ou após o primeiro gole, não beberam, mas não falaram nada.

Perguntadas do porquê, elas responderam que não queriam desagradar o homem.

Você consegue ver o problema disso?

Crianças acharam melhor fazer algo que era ruim para elas, para não desagradar. Mas não qualquer criança, meninas.

O mesmo estudo repetiu a experiência com meninos. Adivinha? Eles disseram que a limonada estava ruim!

Mas Fabi, como isso se relaciona com o tema dessa news, você não estava falando sobre tempo?

Já chego lá!

Essa correria e busca por mais tempo, afeta a todos os nós humanos. Porém, é mais presente nas mulheres.

Nós, é que socialmente, sofremos mais pressões para fazer mais, exercer mais papéis sociais e apesar disso, seguirmos lindas, formosas e disponíveis. Sempre dizendo SIM.

Cada vez que dizemos sim, quando nossa vontade é o contrário disso, estamos dizendo NÃO para nós mesmas.

Nosso problema não é a falta de tempo.

A real questão é usar o tempo como desculpa para não bancar nossos desejos.

Dizemos que quando tivermos tempo vamos fazer e acontecer.

Será que isso é verdade?

Nós vivemos nos preocupando demais com os outros e de menos com a gente.

Medo, tempo e prioridade

Quem é prioridade na sua vida? A gente acha tempo para o que é prioritário.

Que lugar de prioridade seus desejos tem na sua vida, hoje?

Não sei de você, então falarei sobre mim.

Hoje tomei uma rasteira na terapia que ainda estou sem conseguir ficar em pé.

Ouvi da minha terapeuta: você deixaria fazerem isso com seu filho?

Minha resposta imediata foi: claro que não!

A contra partida dela foi: então porque você deixa fazerem isso contigo?

Ui, doeu! Me atravessou demais isso.

Tenho certeza de que você consegue pensar em situações que você também não definiu limites com clareza, não se defendeu, se agrediu, porque achou que "não era nada demais".

Só que esses "nada demais" vão se adicionando e nós vamos deixando de ser prioridade em nossas próprias vidas.

Ao longo da vida, aprendemos a respeitar nosso medo de sermos abandonados, de não sermos amados. Mais que respeitar, aprendemos a ceder a este medo.

E como fazemos isso? Através dos nossos mecanismos de defesa, como a negação que citei anteriormente. Estes mecanismos psicológicos nos ajudam a lidar com nossos medos mais profundos.

Existem diferentes mecanismos de defesa, como a negação, a projeção, reatividade, racionalização e outros.

Você gostaria de saber mais sobre isso? Se sim, vota neste tema para a próxima newsletter no final desta edição.

Você consegue perceber a que mecanismo de defesa recorre quando está com medo?

Rainha da racionalização

Quando tenho medo, racionalizo.

É nessas horas que meu lado cientista aflora. Analiso tudo. O que sinto, o que os outros sentem (impossível da gente saber, mas eu imagino que sei hahahah), revejo cenários.

Não existe mecanismo de defesa melhor ou pior. Todos se resumem a mesma coisa: crio uma história ou comportamento que torna mais fácil lidar com o afeto (o sentir).

Eu nem gostava dele tanto assim.

Prefiro ficar em paz do que ter razão.

Com certeza tem uma boa justificativa para ele/a ter agido assim/assado.

Me conta, a carapuça já serviu por aí?

Não estou te apontando dedos. Até porque quando faço isso, tenho vários dedos apontados para mim mesma.

Agora que já entendemos que nosso problema não é a falta de tempo e que usamos mecanismos de defesa para nos defender, o que fazemos com estes conteúdos?

Só saber, ter ciência de que isso acontece, não resolve. Precisamos elaborar todo esse conteúdo.

A coragem de bancar o sentir

O primeiro passo para lidarmos melhor com essas questões, é termos coragem de bancar o que sentimos.

Porém, o fato de fazermos isso, não quer dizer que o outro vai bancar a mesma coisa.

Independente disso, precisamos ter essa honestidade consigo mesmo. Mais que isso, precisamos aprender a nos defender e nos priorizarmos.

Eu chamo isso de bancar o sentimento.

Assumir o meu desejo, o meu querer e mais importante: o meu não querer.

Agora eu te pergunto: você sabe o que você quer?

O que você tem desejado?

Nessa edição falamos sobre tempo, desejos e bancar nossos sentimentos. Em um dos parágrafos falei sobre os mecanismos de defesa emocional, que daria por si só, uma newsletter inteira.

Que tema você gostaria de ler na próxima edição? Vote no seu favorito:

  1. Mecanismos de defesa emocional

  2. Como descobrir o que eu quero?

  3. Como sair da paralização causada pelo medo

Se você quiser sugerir algum outro tema, quero conhecer a sua sugestão!

Newsletters Recomendadas

Hoje quero te recomendar a Newsletter de um colega de mentoria, o Gus.

Ela fala sobre desenvolvimento com uma perspectiva interessante: a das ferramentas de produtividade, inteligência artificial e temas relacionados.

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Favoritos da semana 🏆

  • Esta semana assistimos ao seriado Ripley. A história é conhecida mas o diferencial dessa releitura é a maneira que foi filmado. Todo em preto e branco, com enquadramentos muito estudados que despertam emoções o tempo todo. Está passando na Netflix, aqui o trailler para você decidir se gosta.

  • Esta semana não tenho indicações novas de livros, só li artigos científicos para o doutorado! 👩‍🔬

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