A vida não é um morango

Bruxa Cientista – Edição #010

Feche os olhos e imagine um morango. Vermelho. Doce. Suculento.

Se você não gosta de morangos, pode imaginar sua fruta favorita. A minha é um empate triplo: morango — tangerina — kiwi dourado.

Mas essa edição não é sobre frutas e sim sobre verdades amargas que precisam ser digeridas.

Qual a sua fruta favorita? A minha é morango. Mas também amo tangerina e kiwi.

Redes sociais: nem sempre são um morango doce

Sabe quando você compra aquela caixa de morangos e fica ansioso para chegar em casa e comer?

Como você se sente quando pega os primeiros morangos da caixa e eles revelam morangos mofados por baixo?

E quando você pega aquele morango lindo, dá uma mordida, mas ele está azedo ou ácido demais?

Não sei você. Eu fico muito indignada.

E é assim que tenho me sentindo em relação às redes sociais ultimamente.

A associação imediata que faço é com o episódio mais recente do podcast Obvious dessa semana, onde elas falam que a vida não é um morango.

As redes sociais são uma vitrine muito apelativa. Como um morango gostoso. E sim, pode ser doce.

Mas também pode ter um monte de morango ácido e mofado.

3h08. 4h18. 2h51. 6h06m. 7h4m.

Esses números, especialmente o último, fazem meu coração disparar. Geram preocupação e medo.

São os dados do relatório do meu telefone sobre meu tempo médio de tela (celular).

Estatísticas mundiais sobre o uso de redes sociais indicam que uma em cada três pessoas concorda que as redes sociais nos fazem mal. Então por que estamos investindo tantas horas do nosso dia nelas?

Te convido a ir nas configurações do seu telefone e ver o seu relatório de uso de tela. Veja também a média de tempo por aplicativo.

Deixe os números serem digeridos.

Provavelmente você também está gastando tempo demais com morangos que não são tão doces assim. Concorda?

Tempo é dinheiro

Você já deve ter ouvido a frase “Tempo é dinheiro”.

Mais que isso, tempo é vida. Ele é o nosso recurso mais limitado.

Uma hora, nosso tempo acaba.

Vamos fazer uma conta básica. Considere que você acorda as 7 da manhã e dorme as 11 da noite. Temos aí um dia de 16 horas. Multiplique por 365 dias. 5840 horas.

Agora considere que você usa em média, 4 horas por dia de tela. Multiplica por 365 dias. Teremos um resultado de 1460 horas. Isso significa que você gastou 25% do seu ano, com o celular.

O que você poderia fazer, na sua vida (offline), com 1460 horas?

No Brasil, segundo o MEC, um mestrado ou um doutorado, tem o mínimo de 1200 horas. Uma faculdade de três anos tem em média 2400 horas.

Ficou chocado? Suas quatro horas diárias de tela podem ser um mestrado inteiro ou meia faculdade.

Agora te pergunto: o que você gostaria de fazer com essas 1460 horas da sua vida?

Seu tempo de tela é útil?

Quando eu reflito sobre o meu relatório de uso de tela me bate o desespero.

Sou mestre em saúde mental, vou começar um doutorado na mesma área.

EU SEI que não devia estar usando tanto o celular.

Pego o meu diário. Comparo minhas anotações sobre como me sinto ao longo da semana com a quantidade de horas que fiquei no celular.

Arrisca adivinhar o resultado?

O dia que me senti melhor foi o dia que usei menos o celular.

O dia que me senti pior foi o dia que usei mais o celular.

Não podemos dizer que uma coisa causa a outra. Também não quero generalizar e dizer que tudo que está errado é culpa do celular. Isso seria infantilidade.

Precisamos de contexto e saber ver os dados.

Por exemplo, fazia muito tempo que eu não fazia exercícios físicos com consistência.

Hoje, isso está acontecendo porque participo de um grupo no whatsapp chamado Heroesfit (obrigada HC!). Lá conheci o meu personal, o Juarez, e o treino é todo online.

Eu chego na academia e uso o celular para ver a execução adequada do exercício. Depois para registrar que treinei (sim, a famosa foto do #tapago).

Então esse tempo de tela, está sendo muito bem utilizado.

Mas será que a maior parte do meu tempo de tela hoje é útil?

Revejo meus números e o uso por aplicativo. A minha resposta é não. E a sua?

Vida pessoal e profissional

O celular misturou as nossas identidades. Trabalhamos tanto com essa ferramenta que não sabemos mais os limites do nosso trabalho. Fica fácil levar trabalho “para casa”.

Além disso, existe todo um contexto social no qual estamos inseridos e que faz parte da nossa personalidade. Ou você achou que ser quem você é resulta somente da sua genética e criação? (Mas isso fica para uma outra newsletter).

O ambiente no qual estamos inseridos nos afeta mais do que imaginamos. Absorvemos ideias e comportamentos da nossa cultura. Tanto questões que nos fazem bem como questões que prejudicam nossa saúde em sua totalidade.

No contexto atual se fala muito em vida pessoal e vida profissional. O que fazer em uma. O que buscar na outra.

Adiciona-se a isso a romantização do trabalho. Ele toma um palco desproporcional e começamos a medir nosso valor pessoal, pelos nossos resultados profissionais. E isso está nos deixando doentes.

A nossa sociedade atual é a mais ansiosa, insegura e infeliz que já existiu sobre a Terra.

Quero te apresentar uma nova perspectiva. E se pararmos de falar vida pessoal e vida profissional, como se fossem duas coisas separadas e passássemos a falar vida e trabalho.

Percebe a diferença? Vida é tudo que eu faço quando não estou trabalhando. Trabalho é o que faço para dividir meus talentos, servir as pessoas, gerar dinheiro. Mas trabalho não é a minha vida.

Hoje em dia associamos trabalho com palavras como missão, propósito e parece que se seu trabalho não te proporcionar essa experiência quase transcendental de satisfação, tem algo de errado contigo. Será?

Olha, tá tudo bem você gostar do seu trabalho e se sentir realizada com ele. Eu sinto isso também.

Mas se os melhores momentos da sua semana são quando você está trabalhando, tem algo de errado nisso daí.

Calma. Não estou apontando o dedo pra você. Estou falando de mim mesma. Eu tenho bons momentos fora do trabalho mas eu percebo que cada vez mais, busco o trabalho para me sentir bem e validade. E isso não é bom.

Pois é, a vida não é um morango.

Verdades amargas também precisam ser engolidas

Essa semana terminei de ver um seriado com meu marido (te recomendo ele mais abaixo). Ele mexeu profundamente comigo. Me fez refletir sobre verdades bem amargas.

Tenho consistentemente buscado uma vida mais leve. Mais simples. Mais plena.

Porém, quando vejo a quantidade de horas que passo no celular, acontece uma incongruência já que vida é o que acontece quando não estou no celular!

Essa semana na terapia falamos sobre isso e outras questões que envolvem o meu trabalho. Como, por exemplo, como me doeu no dia dos professores ver outras pessoas do digital recebendo mensagens de alunos.

Esse incômodo fala muito de mim. Fala das minhas feridas de inadequação. Fala do meu medo de ser abandonada. Tem muito conteúdo emocional que não tem relação nenhuma com meus alunos.

Aliás, alunos, não se sintam culpados ok? Tá tudo bem rsrs.

Analisando, cada vez mais vejo que as redes sociais me levam para esse lugar de querer ser amada. Querer receber aplausos e reconhecimento.

Não tem nada de errado com isso. Mas é sofrido demais, entendem? Ficar sempre nesse lugar de buscar ser servida. Especialmente porque esse não é o meu lugar.

Como astróloga isso fica ainda mais claro. Já faz muitos anos que estudo o meu mapa e sei que meu papel é de professora, mentora.

Um bom mentor guia pessoas. Um professor ensina. Isso significa fazer parte da jornada dos outros. Ser um degrau.

O meu lugar não é o do palco. E não vou mentir que deixar essa ficha cair está doendo muito por aqui. Mas essa dor também está abrindo caminho para uma leveza sem tamanho.

Ufa, que alívio. Eu não preciso das redes sociais como eu pensava.

Meu trabalho não é a minha vida.

Meus cursos online não são o sustento da minha família.

Se eu quiser, eu posso parar tudo hoje.

Respiro fundo. Sinto meu coração mais leve, mais quente, mais vivo.

Eu não preciso disso.

Não é necessidade, é escolha

A hora que olho para o meu trabalho pelo que ele é entendo que hoje, ele também é uma escolha.

Eu não trabalho por necessidade. Temos um arranjo aqui em casa que foi construído ao longo dos anos.

Sou muito privilegiada e tenho consciência disso.

Assim, posso criar uma relação mais leve com meu trabalho e com as redes sociais.

Por isso quero dividir com vocês uma decisão que foi bem difícil. Mas necessária.

Vou me permitir fazer um experimento. Dia 7/12 meus pais chegam aqui na Nova Zelândia.

Neste dia, vou buscar eles no aeroporto, provavelmente postarei stories sobre isso e em seguida, deletar o Instagram do meu celular.

Calma. Não vou deletar meu perfil nem parar com o meu trabalho.

Novembro será um mês de muito trabalho, deixando meu conteúdo todo programado e dando as últimas aulas do ano.

Dia 16/01/24, quando meus pais forem embora, vou reinstalar o Instagram.

Vamos ver o que acontece.

Você já fez algo parecido? Se sim, me conta? Quero saber como foi.

A vida não é um morango, mas não precisa ser um quiabo

Nessa edição partilhei reflexões sobre vida, trabalho, redes sociais e nossa relação com o celular.

Pois é, a vida não é um morango daqueles bem suculentos e docinhos. Pelo menos não o tempo todo. Mas também não precisa ser amagar como um quiabo.

Não podemos controlar tudo. Mas podemos fazer algumas escolhas. Como essa minha acima, de passar menos tempo no celular.

Adoraria saber a sua visão sobre estas questões. Escrevo não só para dividir o que penso, mas também como uma maneira da gente se conectar.

Sua opinião importa e eu mesma leio e respondo cada um dos e-mails.

Vou adorar te conhecer um pouco mais. Essa é a parte boa das redes. As conexões que podemos fazer.

Até semana que vem!

Beijocas,

Fabi Ormerod

Favoritos da semana 🏆

O seriado que nos impactou por aqui essa semana está na Netflix. A queda da casa Usher vai te fazer refletir muito sobre trabalho e escolhas. As atuações são perfeitas e tem um que de bruxice que não vou dar spoilers, mas que nos prende até o final.

Um dos meus podcasts favoritos estes dias foi da Noele Gomes, chamado dedo de prosa. A No é minha mentora e juntas trabalhamos a minha conexão com o feminino e minhas raízes ancestrais. Ela tem trazido convidadas muito interessantes que fazem a gente refletir muito sobre como empreendedorismo, vida e tudo mais.

Indicações de Newsletters incriveis:

Alquimia da mente do meu mentor Henrique Carvalho

Laboratorio do Ser da minha amiga Dea Felicio. Minha melhor amiga de infancia que o digital me deu de presente.

Sobre a Newsletter Bruxa Cientista

Escrita por Fabi Ormerod compartilhando experiencias e perspectivas sobre mentalidade, mundo sutil e mundo concreto.

Newsletter configurada e enviada pela plataforma BeeHiiv.
Bruxa Cientista - Edição #010

Join the conversation

or to participate.