Será inveja batendo à porta?

Bruxa Cientista – Edição #004

Imagine rolar a tela uma, duas, três vezes. Diferentes pessoas, um cenário comum: todas vestindo vermelho, jovens e radiantes. Você sente um aperto no peito. A sensação de não pertencer. É inveja ou o Instagram está mais etarista?

A imagem do sucesso

Recentemente, um evento de marketing digital sacudiu o Nordeste do Brasil, um círculo tão exclusivo que custava mais de 50 mil reais para entrar. Você adivinhou se pensou em “mastermind”.

O Instagram foi inundado de mulheres de vermelho, postando a experiência em posts e stories (não tem nada de errado em vestir vermelho, ok?!).

No Instagram, essa é a imagem de uma mulher de sucesso no digital

Eu não vou mentir. Doeu não estar lá. Mesmo com a distância geográfica, a sensação é de exclusão, como se eu não tivesse sucesso suficiente para "fazer parte". Fica difícil não se comparar. As mídias digitais têm o poder de espreitar nosso ego, fazer-nos cair na armadilha da comparação, ativando nossas sombras.

Comecei no digital na mesma época que fulana.” “Estudei muito mais do que ciclana.” Frases ecoam em nossa mente, a cada nova atualização no Instagram. Passamos mais tempo online do que imaginamos, buscando um conteúdo que muitas vezes não nos acrescenta nada.

Ontem me assustei ao receber meu relatório da semana e ver que gastei mais de 5 horas do meu dia online. Não pode ser coincidência que me senti mal (emocionalmente falando) nos últimos dias. E não foi o luto que estou passando e falei na edição passada.

Foi inveja, inadequação e comparação. Dá até vergonha de escrever isso, mas quem nunca se sentiu assim?

Isso já rolou com você? Diz que sim, não me deixa aqui sozinha por favor rsrsrs.

Quando o ego se arma

A psicanálise tem algumas perspectivas sobre essa minha situação. Os chamados mecanismos de defesa do ego, como Freud os chamava. Faz parte de ser humano. Muitas vezes eles são pontos cegos e aparecem quando algo foge ao nosso controle.

Algumas dessas defesas são a fuga e o isolamento, negação, repressão e regressão. Outra defesa comum é a intelectualização. Levanta a mão quem já percebeu que racionaliza demais as coisas?

Essa defesa é aquela tendência a querer explicar o que sente. Você a reconhece quando diz “eu já sei o que me trava”. E nesse mecanismo evitamos sentir e usamos nosso raciocínio lógico como explicação para o que acontece.

Prometo explicar melhor cada um desses mecanismos em uma edição futura, mas agora não quero desviar muito o assunto.

O que precisamos aceitar é que toda vez que usamos esses mecanismos, mesmo que inconscientemente, estamos nos protegendo da dor. Mas a proteção das dores tem um preço alto: nos protegemos também do prazer e afetamos nossa autoestima.

Inicialmente usamos esses mecanismos para nos libertarmos de dores, mas acabamos sendo prisioneiros. Ficamos bloqueados e travamos. Deixamos de colocar nosso foco e energia nos nossos sonhos e metas.

A consequência? Facilmente saímos do papel de adultos e agimos de forma infantil ou vitimizada. Não vou mentir, fiquei “pra baixo”, mas pelo menos não deixei de agir. Também não achei que meus resultados são assim ou assado porque não tenho 20 e poucos anos e não uso batom vermelho!

Vulnerabilizando-se

Fabi, mas o que posso fazer quando me perceber refém de sentimentos de inveja ou comparação? Precisamos abrir espaço para dor e olhar para ela. Acolher o que sentimos.

Não foi fácil admitir para mim mesma: Estou com inveja. Estou me sentindo excluída.

E pronto! É isso. É sentindo. Não é racionalizando ou buscando explicação para o que rolou. É se vulnerabilizar.

Afinal de contas, admitir que não tem controle sobre o que está sentindo é ser vulnerável. Eu sei, dá vergonha e é uma tarefa bem difícil. Aliás, tão difícil que virou tese de doutorado da famosa Brené Brown. No livro Eu achava que isso só acontecia comigo, ela diz:

“Quando sentimos vergonha, damos zoom, fechamos o ângulo da visão, e tudo o que conseguimos ver é nosso eu inadequado”.

Para nos ajudar a lidar com isso de forma mais consciente e realista, Brené nos convida a fazer um exercício que quero dividir com você aqui.

Comece preenchendo as lacunas dessas frases:

Quero ser vista como ____________________, ______________________, ___________________ e ___________________. NÃO quero ser vista como ___________________, ____________________, _____________________,

e __________________.

Depois de preencher, reflita sobre as suas respostas e se pergunte:

  1. O que eu sinto quando leio essas frases?

  2. O que estas percepções significam?

  3. Onde e como aprendi essas percepções?

Ao fazer o exercício vamos entender que a maioria dos insights está ligado a percepções de como nos vemos pelos olhares e julgamentos dos outros. Me conta suas percepções ao fazer esse exercício?

Quando eu faço, considerando a situação e incômodo que contei no começo dessa edição, percebo que me sinto inadequada. Eu não sou jovem como as mulheres que estavam nesse mastermind. Eu não me visto como elas se vestem, nem estou sempre de batom vermelho e salto alto como a maioria delas.

Abro espaço para este incômodo. Choro. Me sinto errada.

Etarismo e o mercado digital brasileiro

Depois de me permitir sentir e levar o tema para terapia, uma nova perspectiva se abre. Minha psicóloga fala sobre etarismo e a minha percepção de que o Instagram não é um lugar para mim. Ou para qualquer mulher com mais de 45 anos, que empreende digitalmente.

Eu não tinha me dado conta disso. Inclusive quero saber a sua opinião e pedir referências para ver se não é uma impressão errada minha. Me indica perfis de mulheres, com mais de 45 anos, mães, que são referência em marketing digital no Brasil hoje? O B R I G A D A.

Sincronicidades da vida, conversando com uma amiga essa semana, me surpreendo ao saber que ela estava afastada do Instagram por recomendações da sua psicóloga. Até aí não tem muita surpresa já que há muita pesquisa sobre os efeitos negativos das mídias na nossa saúde mental. Porém, aa surpresa foi que minha amiga foi refém do mesmo gatilho que eu: o tal mastermind das “meninas”.

Fiquei surpresa. Afinal de contas eu achava que só eu estava sentindo aquilo. Ponto para Brené Brown! Deu até um alívio quando ela me contou que sabe de mais cinco pessoas que sentiram a mesma coisa que eu.

Já aconteceu isso contigo? De você se sentir a louca, inadequada, errada do bonde e depois ficar aliviada porque descobre que não está sozinha?

Foi isso que senti. E essa conversa levou a outra, que é a falta de representatividade no Instagram. Não somente de questões raciais, mas também do etarismo que rege a nossa sociedade.

A OMS define etarismo como “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.

Considerando que hoje a expectativa de vida no Brasil é de 76,6 anos (dados do IBGE), imagino que muitos de nós que temos mais de 45 anos já passamos por alguma situação de etarismo.

Você sabia que um em cada quatro profissionais já foi demitido no Brasil por causa da sua idade? Uma pesquisa do final de 2022 feita pela agência Vagas.com chegou a esta conclusão.

Um caso de etarismo ganhou as mídias no Brasil em março deste ano, quando estudantes de uma universidade em São Paulo debocharam de uma colega de 40 anos. O que achei mais triste ainda, é que foram estudantes do sexo feminino que fizeram esse vídeo. Lembro de ter chorado ao ver o vídeo onde elas diziam “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”.

Provavelmente me tocou porque eu voltei a estudar aos 44 anos, quando fiz mais uma faculdade, aqui na Nova Zelândia. Depois comecei o mestrado aos 46 e quero começar o PhD ano que vem, aos 48 anos de idade.

Com toda ciência e avanços, temos sociedades “envelhecidas”. Essa tendência deve aumentar nos próximos anos, invés de diminuir. Eu percebo isso também na minha empresa e atendimentos.

O empreendedorismo atrai muitas mulheres que atendo, especialmente acima de 45 anos. Meus cursos têm alunas acima de 55 – 60. Com a aposentadoria, muitas buscam estudar, ter novos hobbies e até novas profissões.

Inveja ou o Instagram está cada vez mais etarista? Acho que as duas coisas. Enquanto eu não encontro a resposta, adoraria saber a sua opinião sobre isso. Me conta?

🏆 Favoritos da semana

  • Leitura: Minha amiga Dea Felicio começou sua newsletter arrasando. Duvido você ler e não ficar com as meias austríacas na cabeça. Confira aqui.

  • Podcast: Conheci essa semana o Desenrola e adorei esse episódio com a Cris Guerra sobre envelhecimento.

  • Vídeo: Independente da sua orientação política e se curte ou não o Pedro Dória, quero recomendar o papo dele e da Cora sobre o fim das mídias sociais. Assista neste link.

  • Melhoria constante: Meus dois mentores, o HC e o Arnaldo, tem um podcast chamado Liga da escrita. Esse é um dos meus episódios favoritos, onde eles falam sobre como escrever de forma cativante.

  • Receita: Sou apaixonada por cogumelos e também por receitas rápidas e fáceis. Essa aqui da Paola Carosella, minha chef favorita, é delícia demais. Depois me conta se fizer e curtir?

ConviteLCaso você não seja meu aluno/a no curso de Astrologia, ond ensino uma verdadeira Alquimia Interior, quero te convidar para uma aula gratuita, topa?

Para participar você pode se inscrever aqui. 

Sua opinião

Este final de semana entrei na mentoria de escrita do Arnaldo Neto para escrever meu próximo livro. Me coloquei um prazo bem desafiador (depois conto pra vocês sobre o que será o livro e a data de lançamento).

Essa newsletter nasceu da minha vontade de aprimorar minha escrita e você pode me ajudar com seu feedback. O que você curte (ou não) nos meus textos? Vou adorar saber a sua opinião. Pode enviar aqui por email ou no direct do Instagram.

Nos vemos na próxima segunda,

Beijocas

Fabi Ormerod

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