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Resolvi sair do armário
Newsletter Bruxa Cientista Edição #029
Escrever uma newsletter é parecido com tirar a roupa.
Nós desnudamos o que pensamos e sentimos quando escrevemos. Pelo menos eu me sinto assim.
Na edição de hoje decidi sair do armário. Pode ser que isso inspire alguém a fazer o mesmo.
Quem é você?
Alguns leitores podem estar esperando relevações íntimas ou escandalosas.
Eu tenho algumas como, por exemplo, quando namorei o vocalista do Capital Inicial (não o Dinho! O Murilo rs).
Ou quando beijei o Marcus Winter, protagonista da novela Pantanal na sua primeira edição, sem saber que ele namorava uma atriz (não lembro quem era).
Mas essa edição não é sobre meus namoros quando solteira.
Há algo mais escandaloso que alguém que se mostra por inteiro?
Quando ouvimos a solicitação para apresentar quem somos (Fale um pouco mais sobre você, ou se apresente), qual a primeira coisa que vem à sua cabeça?
Socialmente, fomos condicionados e acostumados a nos apresentarmos sempre dizendo pelo menos nosso nome, idade e nossa profissão.
Oi, sou a Fabi Ormerod, tenho 49 anos e sou…bom comigo isso sempre complica porque faço mil e uma coisas.
Pesquisadora. Estudante. Astróloga. Escritora. Terapeuta. Esposa. Mãe. Irmã. Filha. Imigrante. Empresária. Autista.
São tantos rótulos que usamos ao longo da nossa vida. Mil e uma personas. Contudo, algumas "colam" mais.
Ficamos muito identificados com aquele papel e podemos acabar esquecendo quem somos por trás de todos aqueles rótulos.
Quantos de nós sabemos quem realmente somos?
Conhecemos nossa luz e nossas sombras?
Qual é a nossa essência?
Quem é que está ali dentro, por trás de todas as convenções sociais?
Se você agora, se despisse de tudo que foi sendo colocado à sua volta, como camadas de verniz e tinta que vão encobrindo a madeira nua e crua, original; quem estaria ali?
A gente vive tanto no “automático” que não temos tempo nem para saber quem somos.
Autenticidade: Se sentindo bem na própria pele
Em um mundo onde a pressão por se encaixar em padrões externos muitas vezes nos afasta da nossa verdadeira essência, é fundamental explorarmos o que significa ser autêntica.
Um estudo fascinante conduzido por Seligman e Csikszentmihalyi (2000) descobriu que as pessoas mais autênticas tendem a experimentar maior bem-estar emocional e satisfação com a vida.
Isso ocorre porque elas vivem de acordo com seus valores invés de se conformarem às expectativas externas.
Quando vivemos de acordo com nossa verdade interior, experimentamos uma sensação de integridade e plenitude que se reflete em nosso bem-estar emocional e satisfação com a vida.
Brene Brown, em suas pesquisas sobre vulnerabilidade, nos lembra que a coragem de ser vulnerável é essencial para cultivar a autenticidade. Aliás, recomendo muito o livro dela e o TED sobre este tema (sim, essa indicação já rolou por aqui em outra edição, mas vale a pena repetir!).
Porém, a realidade é que muitas vezes não conseguimos ser autênticos. Usamos disfarces, camadas, mecanismos de proteção. Temos medo de não sermos aceitos, amados, desejados, se mostrarmos quem somos.
Essa realidade é vista diariamente por mim e colegas em seus consultórios de psicologia, psiquiatras e terapeutas.
Somos incentivados a desenvolver nosso intelecto, buscar conhecimento, mas a falta de educação emocional nos deixa subdesenvolvidos emocionalmente.
Se este não é o seu caso e você aprendeu com sua família sobre como lidar com suas emoções, como respeitar seus valores e criar limites, me conta mais sobre isso? Você é uma raridade!
A maioria de nós foi aprender sobre educação emocional na idade adulta, ou melhor, estamos aprendendo.
Uma maneira simples de avaliar sua saúde mental e emocional, é fazer a autoavaliação a seguir.
Dê uma nota de zero a dez para cada uma dessas categorias. Lembre do que Renato Russo cantava “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira".
As categorias são: autonomia, relações satisfatórias, crescimento pessoal, auto-aceitação e sensação de que a vida tem significado.
Você pode repetir esse exercício a cada seis meses, ou como eu faço, mensalmente, no meu BUJO (bullet journal), onde rastreio meus hábitos e registro tudo da minha vida.
Fabi, eu estou no time que não aprendeu isso com a minha familia.
Bem vindo/a, eu também não!
E mesmo que já tenhamos aprendido, ainda somos seres superconectados com as redes sociais e tecnologias, mas ainda muito desconectados do vínculo e do afeto.
Essa desconexão do sentir e conexão com o outro, o externo, as comparações, dificultam que a gente crie uma relação saudável consigo mesmo (auto-estima).
Os 3 S que comandam a vida atual
Uma assinante desta news, a Dil, me enviou um e-mail essa semana dizendo que gostaria que eu falasse mais sobre a imposição do uso de tecnologias e aplicativos.
Nesse e-mail, ela comentou sobre o piloto automático dos 3s: self, status e stories. Você já leu algo sobre isso? Se sim, me conta, pois, para mim, é novidade.
Contudo, gostei dessa abordagem sugerida pela Dil.
Essa tríade reflete o dia a dia de muitos. Insatisfeitos com quem são, buscam reconhecimento e validação através das redes sociais (self + stories).
Esse senso de status, muitas vezes ilusório e gerado por número de seguidores ou placas de faturamento, reforça a persona de sucesso. Simultaneamente, intensifica o receio de ser uma farsa e a insegurança de que sua vida seja uma fraude.
Logo, essa tríade vira um hábito, já que os likes e comentários em redes sociais geram picos de dopamina (leia-se satisfação). Uma recompensa cerebral e viciante. Isso vai na contra mão da autenticidade.
Ninguém é puramente iluminado. Todos nós possuímos sombras, altos e baixos. Isso não confere status.
Apesar disso, eu decidi sair do armário e parar de me preocupar com questões que já são normalizadas nas redes sociais como uso de filtros, postar somente recortes da vida mostrando conquistas e coisas boas.
Minha vida simples
É da natureza humana fantasiar sobre o outro.
Morando na Nova Zelândia, isso acontece mais ainda. Algumas pessoas acham tudo que é estrangeiro é considerado superior. Não é necessariamente verdade!
Hoje, por exemplo, eu considero um privilégio quem tem a oportunidade de comer mamão todos os dias no café da manhã. Aqui não tem, e quando achamos é caro e o gosto não é tão bom como o nosso.
Meu dia a dia é simples.
Quando estou na casa dos meus pais, meu dia começa e termina assim, na praia.
Acordo por volta de 8-8h30, tomo café e faço um ou dois atendimentos online.
Em alguns dias dou aula online ou assisto alguma mentoria. Costumo acabar ao redor de 1–2 pm.
Em seguida respondo mensagens de whatsapp, instagram e telefono para meus pais.
A tarde varia. Tem dias que tem hobbies incluídos como montar quebra-
cabeças, fazer algum artesanato, ler.
Geralmente faço meu almoço, um hábito que incorporei na rotina faz alguns meses e que me deixa muito feliz. Me alimento melhor e também descobri que eu gosto de cozinhar, testar novos ingredientes e receitas.
Quando meu filho está em casa, almoçamos juntos. Depois assistimos uns 2 episódios de Grey's Anatomy, meu seriado favorito. Estamos revendo a série toda, desde o primeiro episódio. Essa semana chegamos no final da quinta temporada.
Depois desse momento de relax, costumo fazer um cappucino e vou estudar. Uma vez por semana vou para universidade daqui, onde tenho um contrato de assistente de pesquisa (trabalho 4h por semana nisso).
Quando estou no campus, tento encontrar alguma amiga para um café ou aproveito para ir à biblioteca pesquisar algo do meu doutorado.
No final do dia, três a quatro vezes por semana, vou para academia.
Em alguns dias, uso a academia como spa. Após o treino passo esfoliante no corpo todo e faço vinte minutos de sauna, seguidos de um banho bem demorado. Geralmente faço isso às segundas, quando tenho personal trainer (ela só atende em uma das sedes desta academia, que é onde tem a sauna).
Dependendo do horário, eu caminho pela cidade, vou à biblioteca, ou me dirijo ao mercado e escolho algo gostoso para o lanche ou janta.
Nossa rotina noturna costuma incluir ver jornais (daqui e do Brasil), ou assistir algum documentário, ou seriado. Jantamos juntos. Alguns dias eu cozinho, outros meu marido (que cozinha bem melhor do que eu).
Talvez você leia isso e pense: nada de mais. Minha vida é parecida com a dela.
Sim, muitos de nós temos vidas muito parecidas!
Apesar disso, estudos comprovam que quanto mais tempo de tela, mais insatisfação você começa a ter com a sua vida e achar que tem algo de errado nela.
O mecanismo que nos tranca no armário
Nas redes sociais, vidas falsas, montadas e recortadas são postadas diariamente. Essa engenharia digital existe para fazer você se sentir infeliz.
Lembrando que estou escrevendo sob a perspectiva da nossa saúde mental.
É óbvio que existe muita coisa boa que conquistamos através do uso da tecnologia e tem pessoas incríveis e conhecimento que podemos adquirir online.
Será que esvaizar os bolsos e encher os armários vai te deixar mais feliz?
Apesar disso tudo, refita comigo: pessoas satisfeitas compram mais ou menos?
A rede social é criada para fazer você ficar lá o maior tempo possível. E foi desenvolvida para nos sentirmos infelizes. Para buscarmos cada vez mais dopamina (senso de satisfação cerebral imediato).
Existem várias formas de gerar dopamina, mas é muito mais rápido receber um pico desse neurotransmissor vendo seu stories receber mil corações do que saindo para correr por uma hora.
As redes são arquitetadas para nos prederem por muito tempo para que possamos ver o maior número possível de anúncios.
É assim que essas instituições fazem dinheiro.
Se nos sentimos bem em nossa própria pele e temos saúde mental, precisamos de menos coisas para nos anestesiarmos.
Compramos menos. Diminuimos o tempo de tela.
Investimos mais energia e tempo em relacionamentos profundos, tempo na natureza e prazeres simples.
Brilho no olho não dá para fingir
Essa frase é de um dos textos do meu livro Mulher de Fases.
Sim, a frase está desatualizada já que hoje, com filtros, você muda até seu corpo. Podemos até adicionar brilho nos olhos com um clique.
Porém, não conseguimos fazer isso no dia a dia. Naquela hora de olho no olho.
Desde que decidi usar menos redes sociais, ano passado (falei sobre isso aqui), tenho criado hábitos que estão me deixando mais saudável.
Faço exercícios regularmente (obrigada HC e galera do heroes fit!), me alimento melhor e tenho um dia menos agitado.
Ontem, na academia, sem filtros e sem maquiagem, fiz essa foto.
A consistência dos treinos está começando a dar resultados.
Eu tenho uma relação complicada com meu corpo (que pode ser tema de uma outra news). Apesar disso, me senti bonita.
Quando vejo fotos minhas dos últimos meses, gosto de quase todas.
A gente transpira o que sente.
Eu hoje vejo leveza nas minhas fotos.
Assumi que sou nerd, gosto de ler e escrever.
Sou muito família, gosto de cozinhar e estar com meus pais, meu marido, meu filho.
Gosto de jogar cartas, fazer caminhadas e tomar café.
Sou viciada em Grey’s Anatomy e livros.
Eu saí do armário e nunca mais quero ficar trancada dentro dele.
E você, ainda está dentro do armário ou já saiu?
Sua opinião é importante!
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Fabi Ormerod
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