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Porque eu não rasguei os meus diplomas
Bruxa Cientista – Edição #009
Cada vez que escuto alguém dizer que faculdade é jogar dinheiro fora, me dá um aperto no peito. Aprendi que a vida não é oito ou oitenta, ou polarizada como vemos hoje em dia. Sim, existem faculdades que desperdiçam nosso tempo e dinheiro. Existem faculdades com métodos antiquados e que não estimulam os alunos a pensar. Mas isso não é verdade 100% do tempo, nem para todas as pessoas.
Crianças da Newlands Intermediate School, fazendo uma dança típica daqui
Estudando no primeiro mundo
Antes de falar da minha experiência estudando aqui na Nova Zelândia, onde vivo desde 2016, quero te contar um pouco mais sobre como funcionam as escolas aqui.
Essa foto é da Newlands Intermediate School, escola que meu filho Pedro estudou quando chegamos aqui. Ele tinha 10 anos de idade. No Brasil, estava na 5.ª série. Entramos no site da escola e fomos informados que para fazer a matrícula precisávamos marcar um horário para o Pedro com a Diretora da escola.
Sim, para o Pedro, e não para nós, os pais. Esse foi o primeiro choque cultural que tivemos. Aqui na Nova Zelândia, as crianças são vistas como pessoas que tem direito a opiniões sobre suas vidas. Os pais fazem parte desta decisão, mas a primeira entrevista é com a criança.
Assim, agendamos uma reunião com a Diretora onde na primeira parte, eu e meu marido fomos somente ouvintes, pois ela queria conversar com o Pedro. Como ele ainda não falava inglês, nós fomos juntos para que eu pudesse traduzir.
Nessa primeira reunião ela quis saber quem o Pedro era, o que ele gostava de fazer e como ele gostava de estudar. Todos nós ficamos bem confusos, pois nunca ninguém havia perguntado isso.
Depois ela nos explicou sobre o sistema educacional neozelandês. É muito diferente do nosso, mas vou tentar resumir.
As crianças vão para escola a partir dos cinco anos de idade e estudam em uma escola que é como um primário até os nove anos de idade, quando passam para o intermediate. Elas ficam nesta outra escola de nove a treze anos, quando então passam para os colleges, também chamados de high school.
Não existem provas nem avaliações formais até o high school. O foco é ensinar habilidades para vida e as chamadas soft skills: liderança, empatia, trabalho em equipe, gestão de tempo, etc. As escolas são públicas e para se matricular, a criança precisa morar na mesma região da escola.
Durante o high school as crianças já vão escolhendo as matérias para direcionar as áreas que as interessam. Como uma escola técnica, com a diferença que está tudo bem você estudar astronomia, psicologia e sociologia (como meu filho fez). Até porquê, na faculdade, você mesmo irá montar sua grade de estudos.
Existem exceções a isso como quem escolhe cursar direito, medicina e algumas engenharias. Mas de forma geral, existem poucas disciplinas obrigatórias e várias matérias de uma área vasta de conhecimento. O aluno monta sua faculdade e a instituição aprova ou não aquela grade.
O processo de matrícula é simples: qual a idade da criança e endereço que ela mora. Não existe reprovar. Apesar disso, é feita uma avaliação da habilidade de leitura, escrita e conhecimento matemático que a criança tem. Isso faz com que o professor consiga fazer o plano de aulas de acordo com os alunos que tem. E se necessário, professores assistentes, chamados de teacher aid, podem ajudar essa criança em seu aprendizado.
Como as escolas daqui são diferentes?
Além do que expliquei acima, toda estrutura da escola é diferente das escolas que meu filho estudou no Brasil. Você pode entender melhor visitando o site da escola onde tem várias fotos da estrutura.
Quadras imensas de esportes, laboratório de robótica, cozinha, jardins comunitários que as próprias crianças cuidam e uma colmeia viva dentro da sala de aula.
As salas de aula tem paredes de vidro onde as crianças colam post its e escrevem suas ideias e projetos. As portam ficam abertas e não tem carteiras como no Brasil, ou melhor, elas existem, mas podem ser arranjadas como a criança quiser.
Ao redor das salas existem pufes, quadros, painéis, mesas e as crianças podem estudar dentro ou fora da sala de aula. É tudo muito flexível e respeitando a forma de aprendizado daquela criança.
Existe um curriculum mínimo obrigatório, mas ele é ensinado de maneiras muito criativas. Por exemplo, é comum ensinar métrica com brincadeiras, invés de réguas. Primeiro a criança aprende o conceito, jogando papéis de avião e medindo a distância com passos.
Não é raro ver o professor colocando no telão um TED e depois as crianças usando posts its e canetas nos vidros criando mapas mentais com as ideias principais. Eu mesma presenciei uma dessas apresentações onde as crianças assistiram um TED sobre sustentabilidade.
Naquele caso, elas estavam aprendendo ciências e durante o trimestre iriam criar projetos de casas sustentáveis, fazer os protótipos e tudo o mais. Aos dez anos de idade!
Fazendo faculdade do outro lado do mundo
Foto de uma das entradas da Victoria University of Wellington, onde estudei
Quando nosso visto de residência saiu, mudaram as regras de licença sem vencimento do TRT, onde meu marido trabalhava no Brasil. As novas regras exigiam que para continuar aqui na Nova Zelândia, meu marido estivesse acompanhando o cônjuge em estudos.
E foi assim que escolhemos ficar aqui invés de retornar ao Brasil, no começo de 2019. Decidi estudar psicologia, algo que sempre sonhei.
Como eu não sabia nada sobre o sistema de faculdades daqui e não encontrei orientação adequada, passei por muitos desafios. Eu não sabia que psicologia aqui na NZ é diferente do Brasil.
Aqui, você se forma, mas não pode atender pessoas. A faculdade te prepara para ser um pesquisador do comportamento humano. Se você quer atender pessoas você precisa fazer um mestrado de dois anos, depois uma certificação para receber a titulação de psicólogo clínico, que leva mais dois anos e um ano de residência.
Depois de estudar seis meses, acabei mudando de curso para psicologia da saúde, que é uma mistura de psicologia com sociologia, política e outras ciências sociais e com foco em saúde pública principalmente.
Estudar aqui foi diferente da minha faculdade em farmácia e bioquímica na UFPR. Agora que já conclui o mestrado, posso dizer que fui muito semelhante a este, em termos de experiências e modelos de ensino. A maior diferença é no grande foco em escrita, lógica e capacidade de sustentar suas ideias.
Ao longo dos últimos quatro anos que estudo aqui, tive que desenvolver várias habilidades. Estes aprendizados não ficarem restritos ao mundo acadêmico. Diariamente eu uso aprendizados da faculdade e do mestrado no meu trabalho online e nos meus atendimentos.
Você pode estar pensando: mas isso é uma realidade completamente diferente da minha. Eu não estudei na Nova Zelândia, meu diploma não serve mesmo para nada.
Discordo.
Seus diplomas têm valor
Tudo é uma questão de perspectiva. Sim, eu discordo do modelo educacional brasileiro. Mas isso não significa que tudo que você fez ao longo da sua jornada acadêmica foi a toa.
Mesmo meus estudos acadêmicos no Brasil me ensinaram aprendizados valiosos.
Aprendi o que funciona e o que não funciona para meu aprendizado e tive professores que admirei e que influenciaram minhas decisões profissionais e formas de ver o mundo. Isso deve ter acontecido contigo também, não foi?
Mas o aprendizado mais importante que um diploma nos dá, é a resiliência.
Você pode achar que não serviu para nada seus anos de estudo. Mas você acabou! É sinal de que você fez algo com começo, meio e fim.
Em um mundo onde tudo é rápido e instantâneo, isso tem muito valor sim.
Eu discordo dos gurus do digital que dizem que faculdade não serve para nada. Ou que estudar é falta de tempo.
Conheço pessoas incríveis, inclusive meu mentor, o HC, que nunca fizeram uma faculdade. Mas isso não significa que eles não estudaram.
Pelo contrário, as vezes acho que eles estudaram até mais do que algumas pessoas com diplomas. Até porque, sem uma grade curricular, essas pessoas tiveram que criar sua própria grade de estudos. O que no final das contas, acaba sendo muito similar ao modelo de estudos daqui #ironiasdavida.
A questão importante é que não existe um único modelo perfeito que sirva para todas as pessoas.
Mesmo discordando do modelo de ensino brasileiro, admito que sem o diploma da UFPR eu não estaria onde estou, pois, não poderia ter entrado em nenhuma universidade da Nova Zelândia. A não ser que eu tivesse idade para passar por todo primário, intermediate e college aqui. Na prática, seria impossível.
Multipotencialidade e a descoberta do que funciona para você
Você já ouviu falar em predominância sensorial?
Todos nós temos um sistema visual, auditivo e sinestésico, mas temos preferências. Entender qual é o sistema que você mais usa influencia como você estuda e aprende. Podemos facilitar ou complicar nosso aprendizado se não temos consciência disso.
Neste link aqui você pode fazer um teste e descobrir qual é o seu estilo de aprendizagem dominante. Eu sou muito visual, por isso preciso escrever, desenhar mapas mentais, rascunhar.
Além do sistema sensorial de cada um, precisamos parar com essa busca desenfreada por propósito e vocação (mas isso fica para nossa próxima edição). Nem todo mundo tem uma única área de interesse ou uma vocação absoluta.
Eu gosto muito desse TED sobre multipotencialidade e acho que muitos de nós nos identificamos com o que a Emilie fala aqui. Assiste e depois me conta o que você achou?
Eu lembro da emoção que senti quando vi esse TED pela primeira vez. Eu tinha acabado de sair do meu emprego na multinacional, já tinha 40 anos de idade e me sentia um fracasso.
Quando assisti, foi como se tivesse entendendido quem eu sou, com uma profundidade que não tinha acontecido antes.
Minha culpa em querer saber mais foi embora. Entendi que sou uma pessoa com múltiplos interesses e não tem nada de errado nisso. Aliás, meu mapa astral me convida a ser essa Hermes de saia, uma bruxa cientista, navegando por várias áreas de conhecimento.
Espero que nossa conversa de hoje sobre as minhas experiências de estudo tenham gerado insights e reflexões aí do outro lado da tela. Te convido a reavaliar sua jornada e seus diplomas (caso os tenha).
Não deixe que ninguém, a não ser você mesma, diga que o tempo e esforço que você investiu em algo não vale a pena ok?
Eu não rasgaria os meus diplomas e acho que se você revisitar sua jornada, também não rasgaria os seus. Porém essa é somente uma perspectiva, a minha. Adoraria conhecer a sua!
Favoritos da semana 🏆
Essa semana eu segui focada em escrever a minha proposta para o PhD, então li e vi menos coisas por aí.
Mas eu estou assistindo a temporada nova do Wrexam na Disney. Já viram? É emocionante ver a jornada desse pequeno time de futebol inglês e aos poucos ir conhecendo a história de vida dos jogadores e de pessoas da cidade envolvidas. Para quem gosta de futebol como eu, é uma série imperdível.
Nesse ritmo de escrita acadêmica e prazo para envio da proposta do doutorado, mimha energia baixa bastante. Para elevar meu humor e energia, tenho escutado músicas da minha adolescência e essa aqui costuma me fazer sair dançando pela sala, cozinha. Duvido você ouvir e ficar parada(o)!
Indicações de Newsletters incriveis:
Alquimia da mente do meu mentor Henrique Carvalho
Copy Letter do Lucas Antônio, uma news semanal sobre Copywriting, Marketing e Carreira.
Laboratorio do Ser da minha amiga Dea Felicio. Minha alma gemea e melhor amiga de infancia que o digital me deu de presente rs.
Essa você não pode perder
Você já deve ter me ouvido falar de como busco sempre melhorar minha escrita. Nessa jornada, não teria me desenvolvido sem mentores. Quero te recomendar o workshop de um dos meus mentores de escrita, de escrita, o Arnaldo Neto.
Ele desenvolvou uma metodologia única para ensinar qualquer pessoa a escrever e publicar um livro em 90 dias. E sim, meu próximo livro será publicado seguindo exatamente as orientações dele!
Se você tem esse sonho, não pode perder o workshop dele neste dia 21. Você pode se inscrever por este link aqui.
Sobre a Newsletter Bruxa Cientista
Escrita por Fabi Ormerod compartilhando experiencias e perspectivas sobre mentalidade, mundo sutil e mundo concreto.
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