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A Ciência Desmascarada
Newsletter Bruxa Cientista edição #024
Quantas vezes você já usou a ciência para embasar suas conversas ou mesmo suas crenças?
Eu já fiz isso inúmeras vezes, ainda mais por ser uma cientista.
Essa semana quero te trazer uma reflexão importante e que nos afeta diretamente: a ilusão do conhecimento científico e porque precisamos entender mais sobre como a ciência é feita.
Uma das coisas que mais faço na vida: ler.
Afinal de contas, o que vale como ciência?
Existem várias maneiras de fazermos estudos científicos. Essas diferentes formas dependem da formação e posicionamento do pesquisador, o que chamamos de epistemologia.
Eu, por exemplo, gosto de fazer pesquisas chamadas de métodos mistos, usando dados quantitativos (medidas, estatísticas) e qualitativos (dados subjetivos, experiências e narrativas das pessoas).
A minha epistemologia de pesquisa fica entre o pragmatismo (me interessa o que funciona no mundo real) e o realismo crítico (avaliar o que acontece na realidade).
Porém, o que chamamos de ciência popularmente, é apenas uma das formas de se fazer ciência.
Hoje, ainda é dominante no mundo a pesquisa quantitativa, que no princípio foi desenvolvida por homens brancos, europeus ou americanos, héteros. Por isso, é chamada também de método científico euro-heterocentrico.
Meu Deus Fabi, que newsletter complicada essa. Calma lá, prometo que vai fazer mais sentido logo rs. Esse embasamento é importante para nossa conversa de hoje.
Esse método usa estatísticas e números como única expressão da verdade. E faz parte desse método que para ser considerado ciência, atenda alguns critérios essenciais.
Dentre tais critérios, está a reprodutibilidade. Se essa pesquisa não puder ser reproduzida com os mesmos resultados, em populações (amostras) diferentes, ela não é considerada ciência.
A ciência se desenvolve através disso: revisamos testes passados e os refazemos, usando outras populações para entender se isso segue sendo verdadeiro.
Uma das maiores mentiras em psicologia
Daniel Kahneman é um psicólogo ganhador de prêmio Nobel e renomado autor. Talvez você o conheça do livro Rápido e Devagar: duas formas de pensar (recomendo, apesar de ser uma leitura difícil!).
Kahneman disse que "a condução de experimentos tem muito em comum com a direção de uma performance teatral". Assustador não acha?
Ele então explica o que quis dizer: muitos estudos, especialmente os que revelam "novidades" manipulam seus dados para que o resultado apresentado comprove o que o pesquisador quer dizer. Mas essa manipulação precisa ser cuidadosa para não ser evidente e desqualificar o estudo.
Esse problema não foi identificado somente por Khaneman, mas por muitos outros cientistas, que inclusive criam um projeto chamado Reproductibilidade em 2011.
Um famoso epidemiologista da universidade de medicina de Stanford, Dr John Ionnidis publicou um artigo onde argumenta que a maioria dos estudos científicos (80%!) publicados tem resultados falsos ou tendenciosos.
A revista Nature, conhecida pela qualidade e seriedade, falou sobre isso em Agosto de 2015. O artigo publicado afirmou que mais da metade dos estudos de psicologia, incluindo teorias famosas, falham no teste de reprodutibilidade. Você pode ler o artigo original, em inglês, aqui.
O estudo da Nature sacudiu a comunidade científica em 2015
Em 2018 aconteceu um dos maiores escândalos na área da psicologia: a falha do teste do marshmallow, criado pelo psicólogo Walter Mischel nos anos 70.
Se você nunca ouviu falar desse teste, pode ver um vídeo sobre ele aqui.
Resumidamente, essa famosa teoria da psicologia (gratificação adiada) diz que crianças que conseguem esperar e resistir a tentação de comer um marshmallow, para comerem mais depois, tem mais sucesso na vida quando adultos.
Até hoje volta e meia vejo alguém falando sobre isso e a importância de adiarmos o prazer e mantermos a disciplina para termos resultados.
Não estou dizendo que isso é mentira ou errado. Mas estou afirmando que não há base científica para acreditarmos nisso.
Voltando ao estudo de 2018, ele foi conduzido por um time de pesquisadores experientes em psicologia, incluindo o próprio Mischel (antes dele falecer).
Os resultados foram surpreendentes e mostraram que as crianças que não resistiram ao marshmallow, não tiveram futuros piores do que as crianças que resistiram.
A questão é que o primeiro estudo ficou muito famoso antes que pudesse ser replicado de forma satisfatória. As replicações feitas eram com crianças muito semelhantes e em populações americo-eurocentricas. Logo, tais resultados não podem ser considerados verdades absolutas.
A importância do pensamento crítico
É muito fácil reproduzirmos conceitos e repassarmos informações porque acreditamos na autoridade ou veracidade de quem nos fala.
De forma alguma estou dizendo que o Dr Mischel quis enganar toda uma comunidade cientifica.
Meu ponto é que precisamos aprender a questionar e refletir um pouco antes de assumir que porque algo está escrito em um artigo científico ele é uma verdade absoluta.
Confesso que fiquei muito decepcionada quando aprendi na faculdade aqui na nova Zelândia que os estudos científicos das revistas mais renomadas (chamamos de "journals"), são pagos.
Você sabia disso?
Aliás, muito bem pagos. Um artigo publicado em um jornal A1 ou A2 (periódicos de excelência internacional), custam em média, mais de 2500 dólares.
Você acha certo pagar para publicar ciência? Será que isso não aumenta a probabilidade de viés na publicação? Fica aqui o questionamento para sua reflexão.
Eu acho suspeito e errado.
Ah, pior ainda: em várias publicações, depois que o artigo foi divulgado, os cientistas perdem os direitos autorais, que passam a ser da revista.
Tem um podcast da rádio USP que fala sobre isso, caso você tenha curiosidade em saber mais (ouvir aqui).
Em tempos de fake news e redes sociais, precisamos mais ainda de pensamento crítico.
O mito da mulher faz tudo
Se você realizar o mesmo teste que executei no google aqui, encontrará perspectivas diferentes sobre mulheres poderem fazer mais coisas ao mesmo tempo, do que homens.
No meu mestrado, quando estudamos estruturas sociais que afetam nossa saúde psicológica, tivemos aulas sobre machismo e sociedades patriarcais.
Converse com qualquer mulher acima de 30 anos, mãe, que trabalhe. 99% delas estão exaustas.
O mito da mulher faz tudo só favorece uma classe de pessoas: os maridos e gestores de trabalho dessas mulheres.
A escritora Ruth Manus fala sobre isso com excelência no livro Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas.
Neste livro a Ruth fala com humor sobre um tema pesado e difícil que são as incertezas e preconceitos que enfrentamos sem nem perceber.
Essa é uma verdadeira aula de conscientização das estruturas nas quais estamos inseridas. Você pode adquirir o livro aqui.
Aliás, quem abordou tema similar faz poucos dias, foi a minha amiga Dea Felicio, nesta edição de sua newsletter sobre a nossa relação com o tempo. Vale a pena ler, complementa o que estamos conversando aqui.
Eu já fui essa mulher que vestia a capa da mulher maravilha, mesmo sem perceber que eu estava me machucando tentando vestir aquela roupa! #quemnunca.
Em psicologia inclusive usamos essa terminologia para descrever um distúrbio de autoestima e codependência, onde a pessoa age como salvadora de todos.
Se quiser ler mais sobre isso, recomendo este artigo científico aqui.
Infelizmente, esse comportamento é uma armadura que esconde uma sombra grande: a de não conseguir olhar para dentro de si.
Quando não conseguimos lidar com as nossas próprias dores e é insustentável fazer esse caminho "para dentro", é comum sairmos pela vida querendo resgatar e salvar os outros.
Assim nosso foco fica distorcido: olhamos para fora e consertamos os outros, já que olhar para dentro dói demais.
Você já se percebeu querendo salvar o mundo?
Se sim, vale a pena levar para sua terapia essa reflexão. Vai doer, mas certamente é melhor do que querer seguir em frente sem olhar para suas feridas.
Nesta edição trouxe a reflexão sobre como manter uma postura crítica sobre pesquisas científicas e a importância do pensamento crítico.
Também conversamos sobre como verdades absolutas advindas da ciência, nos influenciam até hoje, como o mito de que mulheres tem "super poderes” para fazer mil coisas.
Que outros mitos você acha que incorporamos no nosso dia a dia?
Para próxima semana adoraria seu voto. Basta responder a esta newsletter com o número da sua preferência:
Mulheres Invisíveis na Ciência: As heróinas que você provavelmente não conhece. Histórias de mulheres para nos inspirar.
Porque decidi fechar minha empresa no seu aniversário de 10 anos
Você pode ter um negócio sustentável sem o Instagram
Favoritos da semana 🏆
Seriado 1: Essa semana começou a 20a temporada de Grey's Anatomy. no Disney Plus. Eu adoro como a Shonda Rhimes escreve e cria diálogos. É um dos motivos que faz eu assistir a uma série mesmo depois de tantos anos.
Seriado 2: Se você gosta de seriados, deve ter ouvido falar do Problema dos 3 Corpos na NetFlix. Confesso que o primeiro episódio achei chato e confuso. Porém, quando resolvi assistir pela 2a vez, com meu marido, engatamos e maratonamos logo 3 episódios. Resumo: em uma semana acabamos a primeira temporada. O Francis achou que eles simplificaram demais. Eu achei excelente. Se você viu, me diz o que achou? Eu quero muito ver a próxima temporada. Adoro seriados de ficção científica. Achei o roteiro bom, os atores melhores ainda e adorei a trama.
Livros: Nesta edição te recomendei dois livros acima. Volta lá pra dar uma conferida. Não tem algo que eu esteja lendo para recomendar porque a leitura aqui esteve 100% focada no doutorado estes dias rs.
Oportunidade
Tenho uma novidade para quem estava aguardando eu abrir a turma anual da minha certificação profissional em astrologia psicológica, a CAP.
A primeira novidade é ruim, mas você vai gostar da segunda!
Primeiro, não haverá turma da CAP esse ano. Com o doutorado e a demanda da certificação, fica inviável manter meu estilo de vida e abrir outra turma ao vivo.
Porém, decidi abrir uma turma híbrida! (segunda novidade rs). Nesta modalidade você vai receber acesso a gravação da turma 1, incluíndo os bônus incríveis que tivemos, como a mentoria de comunicação e vendas do meu mentor, HC.
A princípio abri somente 5 vagas, pois nesta modalidade você além das gravações tem 2 encontros ao vivo, comigo. Sim, somente eu e você! Por isso são poucas vagas. Hoje, 01 de Abril já foram preenchidas 3 das 5 vagas.
Se você tiver interesse em adquirir uma destas duas vagas, fala comigo respondendo a esta news.
As inscrições encerram dia 08 de Abril.
Newsletter Semanal, nem sempre enviada no mesmo dia da semana (surpresa!). Escrita por Fabi Ormerod compartilhando experiências e perspectivas sobre mentalidade, mundo sutil e mundo concreto.
Newsletter configurada e enviada pela plataforma BeeHiiv.
Bruxa Cientista - Edição 23
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